16.5.06
Reino do Terror
No momento em que escrevo este texto São Paulo, cidade onde moro e onde vivi a maior parte da minha vida, está sob sítio do PCC. Mais chocante do que as imagens de ônibus incendiados, viaturas de polícia metralhadas, e as notícias de mais de oitenta mortos e rebeliões em dezenas de presídios, porém, é perceber que a imensa maioria das pessoas, e a quase totalidade da imprensa, não consegue entender a natureza e a gravidade do momento por que passamos.
A imprensa, incapaz de ir além do óbvio ululante, replica a mentira de que o PCC seria uma organização criminosa e que os ataques desferidos contra as forças de segurança paulistas seriam uma resposta à transferência de líderes da organização para presídios de segurança máxima. Comentaristas na TV discutem a falta de investimentos em segurança pública, a incompetência dos governos federal e estadual em cumprir com sua missão constitucional de defender a lei e combater o crime, e a imperiosa necessidade de impedir que os criminosos nos presídios utilizem telefones celulares para comunicar-se com seus comparsas fora das cadeias. E embora tudo isso tenha lá sua base na realidade, não passa de acessório. O tema central, a raiz do fenômeno assombroso que vemos, não é abordada ou comentada por ninguém. A cegueira é total.
A primeira coisa que precisa ser desmistificada é a própria natureza do PCC. Não se trata de uma organização criminosa; grupos criminosos têm como objetivo primordial obter lucro em atividades ilegais. Não é esse o objetivo central do PCC; se fosse, não estaria promovendo uma onda tão extensa e coordenada de atentados, que consome um volume expressivo de recursos, dinheiro e tempo para ser planejada e executada. Cada membro do PCC envolvido nessa operação é um membro a menos atuando nas atividades criminosas que geram receita, e a sua magnitude sugere que um vasto número de pessoas está envolvida. A onda de violência promovida pelo grupo não traz nenhum ganho financeiro, presente ou futuro, para o PCC. Se é assim, como podemos considerar essa organização apenas uma facção criminosa? Isso é minimizar de forma ingênua o poder e os objetivos do PCC. A atividade criminosa, para o PCC, é apenas um meio para um fim, não um fim em si mesmo. Esse fim, em verdade, é o que estamos testemunhando: implantar um reino de terror em São Paulo e no Brasil, e a debilidade dos governos municipal, estadual e federal oferece a oportunidade perfeita para isso. O PCC é, antes de mais nada, uma organização terrorista, e o crime é apenas o meio pelo qual ele financia suas atividades.
Se o objetivo do PCC é espalhar o terror, fica também evidente que existe uma agenda política. O terror é um instrumento daqueles que desejam o poder político, não financeiro; seu objetivo é sempre minar a confiança do público nas instituições e nas autoridades constituídas. E se o terror é o instrumento que o PCC usa para avançar sua agenda, ela é por definição política. Quando digo política, não me refiro necessariamente a um conteúdo ideológico, embora para mim as ligações entre o PCC e movimentos revolucionários de esquerda, como as FARCS colombianas (que também recorrem ao crime para financiarem suas atividades) sejam bastante claras (e desde a prisão de Fernandinho Beira-Mar evidências contundentes de uma conexão entre o crime organizado no Brasil e a guerrilha colombiana emergiram). Refiro-me, isso sim, a uma estratégia consistente, calculada e de longo prazo de erosão da autoridade do Estado e a construção de um centro de poder paralelo. O PCC não quer dinheiro, mas poder sobre a sociedade e domínio sobre as vidas dos cidadãos. Como esses dias de caos mostram, ele obteve sucesso.
É só uma questão de tempo para que a onda de violência reflua e tudo volte aparentemente ao normal; o governo de São Paulo declarará vitória sobre o crime e voltará à sua inatividade costumeira. O governo federal, depois de anos de incompetência crônica no trato do tema da segurança, não melhorará; nada acontecerá nesse front além das bravatas costumeiras e obviedades expostas como se fossem pérolas de inteligência. Os auto-denominados movimentos de defesa dos direitos humanos usarão a chance para tentar capitalizar politicamente com seu eterno discurso que procura tirar dos criminosos qualquer responsabilidade pelos atos que cometem e transformar os agentes da Lei em monstros. Mas enquanto a sociedade retoma sua rotina e os governos voltam aliviados ao seu confortável estado de inação, os subterrâneos do crime transformado em movimento político continuarão atuando e planejando, só que agora discreta e silenciosamente. O PCC ainda não tem os recursos necessários para sustentar uma longa onda de violência terrorista, e precisa de tempo para recompor suas reservas e recrutar mais tropas. Mas mais dia, menos dia, ele golpeará novamente, com mais força e disposição do que agora.
Conseguirá nossa combalida República, devorada por dentro pela corrupção e atacada pelos flacos por grupos políticos que não tem compromisso com a democracia ou com a Constituição, resistir a mais esse desafio à sua autoridade e legitimidade? Nestes dias de fúria, um passo importante no processo de colombianização do Brasil foi dado. Cabe a nós impedir que sigam-se outros. Mas enquanto as pessoas insistirem em não enxergar a real natureza e objetivos do PCC, não teremos chance de enfrentá-lo com sucesso.
A imprensa, incapaz de ir além do óbvio ululante, replica a mentira de que o PCC seria uma organização criminosa e que os ataques desferidos contra as forças de segurança paulistas seriam uma resposta à transferência de líderes da organização para presídios de segurança máxima. Comentaristas na TV discutem a falta de investimentos em segurança pública, a incompetência dos governos federal e estadual em cumprir com sua missão constitucional de defender a lei e combater o crime, e a imperiosa necessidade de impedir que os criminosos nos presídios utilizem telefones celulares para comunicar-se com seus comparsas fora das cadeias. E embora tudo isso tenha lá sua base na realidade, não passa de acessório. O tema central, a raiz do fenômeno assombroso que vemos, não é abordada ou comentada por ninguém. A cegueira é total.
A primeira coisa que precisa ser desmistificada é a própria natureza do PCC. Não se trata de uma organização criminosa; grupos criminosos têm como objetivo primordial obter lucro em atividades ilegais. Não é esse o objetivo central do PCC; se fosse, não estaria promovendo uma onda tão extensa e coordenada de atentados, que consome um volume expressivo de recursos, dinheiro e tempo para ser planejada e executada. Cada membro do PCC envolvido nessa operação é um membro a menos atuando nas atividades criminosas que geram receita, e a sua magnitude sugere que um vasto número de pessoas está envolvida. A onda de violência promovida pelo grupo não traz nenhum ganho financeiro, presente ou futuro, para o PCC. Se é assim, como podemos considerar essa organização apenas uma facção criminosa? Isso é minimizar de forma ingênua o poder e os objetivos do PCC. A atividade criminosa, para o PCC, é apenas um meio para um fim, não um fim em si mesmo. Esse fim, em verdade, é o que estamos testemunhando: implantar um reino de terror em São Paulo e no Brasil, e a debilidade dos governos municipal, estadual e federal oferece a oportunidade perfeita para isso. O PCC é, antes de mais nada, uma organização terrorista, e o crime é apenas o meio pelo qual ele financia suas atividades.
Se o objetivo do PCC é espalhar o terror, fica também evidente que existe uma agenda política. O terror é um instrumento daqueles que desejam o poder político, não financeiro; seu objetivo é sempre minar a confiança do público nas instituições e nas autoridades constituídas. E se o terror é o instrumento que o PCC usa para avançar sua agenda, ela é por definição política. Quando digo política, não me refiro necessariamente a um conteúdo ideológico, embora para mim as ligações entre o PCC e movimentos revolucionários de esquerda, como as FARCS colombianas (que também recorrem ao crime para financiarem suas atividades) sejam bastante claras (e desde a prisão de Fernandinho Beira-Mar evidências contundentes de uma conexão entre o crime organizado no Brasil e a guerrilha colombiana emergiram). Refiro-me, isso sim, a uma estratégia consistente, calculada e de longo prazo de erosão da autoridade do Estado e a construção de um centro de poder paralelo. O PCC não quer dinheiro, mas poder sobre a sociedade e domínio sobre as vidas dos cidadãos. Como esses dias de caos mostram, ele obteve sucesso.
É só uma questão de tempo para que a onda de violência reflua e tudo volte aparentemente ao normal; o governo de São Paulo declarará vitória sobre o crime e voltará à sua inatividade costumeira. O governo federal, depois de anos de incompetência crônica no trato do tema da segurança, não melhorará; nada acontecerá nesse front além das bravatas costumeiras e obviedades expostas como se fossem pérolas de inteligência. Os auto-denominados movimentos de defesa dos direitos humanos usarão a chance para tentar capitalizar politicamente com seu eterno discurso que procura tirar dos criminosos qualquer responsabilidade pelos atos que cometem e transformar os agentes da Lei em monstros. Mas enquanto a sociedade retoma sua rotina e os governos voltam aliviados ao seu confortável estado de inação, os subterrâneos do crime transformado em movimento político continuarão atuando e planejando, só que agora discreta e silenciosamente. O PCC ainda não tem os recursos necessários para sustentar uma longa onda de violência terrorista, e precisa de tempo para recompor suas reservas e recrutar mais tropas. Mas mais dia, menos dia, ele golpeará novamente, com mais força e disposição do que agora.
Conseguirá nossa combalida República, devorada por dentro pela corrupção e atacada pelos flacos por grupos políticos que não tem compromisso com a democracia ou com a Constituição, resistir a mais esse desafio à sua autoridade e legitimidade? Nestes dias de fúria, um passo importante no processo de colombianização do Brasil foi dado. Cabe a nós impedir que sigam-se outros. Mas enquanto as pessoas insistirem em não enxergar a real natureza e objetivos do PCC, não teremos chance de enfrentá-lo com sucesso.
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Olá Luiz,
Concordo com você quando você define claramente que os grupos criminosos tem como interesse apnas o lucro, tal e qual uma empresa qualquer. Isto é verdade. Assim como é verdade também que este "movimento" é político com características explícitas e insofismáveis de guerrilha da esquerda.
O paradoxal desta situação é que temos um governo de esquerda e o líder deste governo apoia ações desse tipo. Apoia, porque apoia o MST que se utiliza dos mesmos métodos. Faz a mesma escola. Açãoes desse tipo atendem aos interesses inconfesssáveis do governo da esquerda.
Concordo com você quando você define claramente que os grupos criminosos tem como interesse apnas o lucro, tal e qual uma empresa qualquer. Isto é verdade. Assim como é verdade também que este "movimento" é político com características explícitas e insofismáveis de guerrilha da esquerda.
O paradoxal desta situação é que temos um governo de esquerda e o líder deste governo apoia ações desse tipo. Apoia, porque apoia o MST que se utiliza dos mesmos métodos. Faz a mesma escola. Açãoes desse tipo atendem aos interesses inconfesssáveis do governo da esquerda.
moro em SP e vejo o caos que está, com a população sem amparo e com informações desencontradas.
Mas fico imaginando como esses grupos vem agindo com total liberdade pelas fronteiras desse país
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Mas fico imaginando como esses grupos vem agindo com total liberdade pelas fronteiras desse país
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